Andei pensando sobre essa história toda aí de "acabar com a aprovação automática". Eu sempre fui defensora da escola ciclada, embora saiba que a maioria dos professores e dos outros membros da comunidade escolar (responsáveis, direção, alunos, etc) é contra. Normal: a maioria se formou e trabalhou dentro da escola seriada, e não se adaptou ao método.
mas acho que tem um erro básico nesse oba-oba de "acabar". ninguém parou pra pensar que a escola ciclada é um modelo moderno, internacional e que deu certo em muitos lugares. e, pelo menos na minha opinião, é o modelo mais adequado à rede municipal do Rio. nós recebemos crianças muito diversas, e em situações sociais quase sempre dificeis. a escola ciclada permite que cada uma tenha seu ritmo. Concordo que no Rio a coisa não tem funcionado como deveria, mas então seria o caso de nos dar a estrutura que falta: diminuir o quantitativo de alunos por turma (assim o professor pode dar mais atenção individual aos alunos que tem mais dificuldades), contratar profissonais de apoio (psicólogos, psicopedagogos, etc) para todas as escolas...
seria muito mais barato e eficiente do que "voltar tudo como era antes ao quartel de Abrantes".
O argumento da maioria das pessoas é de que "os alunos chegam na quarta série sem saber ler". bem, existe um erro aí. as crianças em situação social de risco sempre tiveram dificuldades de aprendizado. a diferença é que na escola seriada, ficavam reporovadas. isso é péssimo, pois mexe com a auto-estima e a auto- confiança da criança; é quase como carimbar na testa dela: "reprovado". e, em famílias com dificuldades financeiras, o que acabava acontecendo era a evasão escolar. a família deixava de acreditar na capacidade da criança e a tirava da escola, quase sempre para colocá-la no mercado de trabalho infantil. que bonito papael a escola fez na vida dessa criança, não?
com os ciclos, as crianças com dificuldades pararam de sair da escola. e chegaram às séries finais, com suas dificuldades.
números são manipuláveis; é fácil usar essas estatísticas pra dizer que a escola piorou. na verdade, elas mostram outra coisa: o funil alargou.
concordo que as crianças com dificuldades deveriam estar chegando ás series finais com avanços muito maiores. creiam, esse é o desejo de todo professor que honre seu diploma.
è muito facil culpar os professores, dizer que a gente não ensina nem avalia mais. também é fácil dizer que o bom e velho medo da "nota vermelha" era um estimulo eficiente pra fazer as crianças e adolescentes estudarem. mas a verdade é que a gente luta sozinho contra coisas demais. contra uma realidade social difícil, contra uma crise de valores que atinge a sociedade e as famílias, contra a falta de verbas e recursos, contra as deficiencias da nossa propria formação, contra um sistema educacional que cada vez mais nos condena a ficar obsoletos. e, quando se tem alguma inovação, como foram os ciclos, ela é logo sufocada.
li um artigo da Viviane Mosé que dizia que a gente devia buscar uma escola que ensine, não uma escola que reprove. estou de acordo.
o problema é que a sociedade continua vendo a escola como a instituição que mantém as regras da sociedade, e não que as questiona. se a regra da sociedade é competir e só premiar quem anda "dentro da linha", a escola tem que seguir esse modelo; nada de pensar em outras formas de desenvolver os múltiplos talentos humanos...
os pais ainda querem "provas, notas vermelhas"; os professores ainda querem esse poder; os alunos ainda não pensam por conta própria, adestrados por anos de educação tecnicista.
por causa dessas coisas, já me perguntei mil vezes porque, afinal de contas, virei professora. quase desisti da profissão, mas hoje acho que errados estão os outros (arrogancia pouca é bobagem). errado está o professor que precisa da ameaça da "nota vermelha", o pai ou mãe que precisa da reprovação pra fazer seu filho reconhecer a importancia da escolaridade e o aluno que não se interessa por seu futuro.
vcs podem até dizer que "uma andorinha só não faz verão", mas creiam, eu estou mais pra gralha do que pra andorinha. e se não faço verão, pelo menos barulho eu posso fazer, e faço sempre que tenho oportunidade...
ERRATA: no ultimo post, sobre minha experiencia subversiva no Jardim de infância (pra vcs verem que é de pequeno que se torce o pepino) disse que tudo ocorreu em uma eleição pra prefeito, em 1984. na verdade, foi pra governador do Estado do Rio, em 1986. bem, deem um desconto, afinal eu só tinha 5 anos e fiquei traumatizada com a agressão...
Ao som de "I've got you under my skin", com o Sinatra, tocando em um cyber cafe caído do centro
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário