sexta-feira, 31 de outubro de 2008

pequena história eleitoral (não eleitoreira)

Tá legal, tá legal, eu sei que a eleição já passou, logo o assunto nem é mais tao quente, sei que td mundo tá puto pq o Gabeira perdeu e blá, blá, blá. Mas essa históriaé realmente engraçada e vale a pena ser contada.

Bem, cabe dizer que eu só resgatei ela do baú pq estava muito desgostosa com esse segundo turno. Quando o Gabeira foi o deputado federal mais votado, eu ajudei a fazer isso. Mas ele me decepcionou um bocado como deputado, e antes que alguém me acuse de "petista doente", eu digo que não foi pela atuação dele na história do mensalão, e sim pq ele deixou de lado causas que prometeu defender, e que me fizeram votar nele.

Ei, antes de me xingar leia o nome do blog: aqui é o meu conjugado virtual, logo eu falo nele o que eu quero, assim como faço no meu conjugado no mundo real.

Continuando, eu, outrora eleitora do Gabeira, esse ano estava pensando em anular, coisa que detesto. Mas pensei melhor; eu sou professora municipal, e poucos brasileiros tem a chance de escolher seu próprio patrão.Também sou artista, logo tenho que levar em consideração as propostas dos candidatos para a cultura e a educação, afinal, farinha pouca, meu pirão primeiro. As propostas do Paes para ambas as coisas eram desastrosas: acabar com a escola ciclada (que é o que ele realmente quer dizer com essa falácia de "acabar com a aprovação automática", coisa que nunca existiu) significa destruir a única coisa boa que o César Maia fez pra cidade.

Por outro lado, a proposta do Gabeira para resolver o deficit de professores me deixou de cabelo em pé:colocar servidores de outras áreas em sala de aula. Quem é professor, pai ou mãe de aluno sabe: a situação hj em dia é desesperadora. Os alunos estão chegando cada vez mais despreparados na escola, e mesmo os professores com muitos anos de estrada não estão mais dando conta, pq estão sobrecarregados: além de trabalhar os conteúdos programados, temos que dar aos nossos alunos uma base de valores que há 10, 20 anos atrás a familia se encarregava de dar. Hj em dia, essa repsonsabilidade recaiu sobre a escola. Ou seja, colocar em contato com esses alunos um profissional sem noções de didática significa oferece-lo assado, com uma maçã na boca, para um banquete em um festim demoníaco.

Já e,m relação à cultura, a coisa pendia para o Gabeira, visto que a classe artísca do Ruio estacva com ele. com o outro, acho que não havia um canal de diálogo.

Só estou escrevendo isso tudo pra explicar que, além da historinha que vou contar, tinha esse outro motivo aí pra votar no Gabeira (aliás, foi o que eu fiz, desisti de anular. Acabou não adiantando nada, enfim...maldito feriado!)

Me lembrei de alguns momentos da minha infância. Minha mãe me levando pra abraçar a Lagoa em um sábado de sol, com o Gabeira e uma galera do Partido Verde, lá pelos idos de 80 e poucos. aliás, na época, a "galera" presente não era suficiente pra abraçar nem uma poça. eu e meus pais passeando na orla, e acenando pro Gabeira, que passou de bicicleta, cheio de cartazes de campanha, acho que pra vereador. Me lembro que achei muito certo fazer campanha com a bicicleta, pq assim não poluia o ar- o Partido não era Verde?

então, acho que foi em 1984, tivemos aquela eleição pra prefeito em que concorreram o Gabeira, o Darcy Ribeiro e o Moreira Franco. Eu ouvia meus pais conversarem em casa, e sabia que eles iam votar no Gabeira. Nessa época, ei estudava em uma pré- escola (era assim que se chamava a educação infantil, naquele tempo) bastante cara, que ficava em Botafogo. Só estudava lá pq tinha desconto, acho que era pq minha mãe era formada em Pedagogia.

Enfim, um dia, na minha sala, estávamos falando sobre as eleiçoes, e a professora tinha saído por alguns minutos. A maioria das crianças defendia o Moreira Franco, afinal eram filhos da elite carioca. nessa época, rico não votava no Gabeira; só agora é que ele foi considerado o "candidato da Zona Sul". Pra classe média alta, em 80 e poucos, ele era "aquele maluquinho maconheiro da sunguinha de crochê". isso quando não era "o subversivo que sequestrou o embaixador dos EUA". infelizmente, parece ter sobrado tão pouco disso tudo no candidato que vi no debate...

aliás, eu me pergunto se todo esse pessoal que votou nele agora esqueceu tudo isso...na eleição desse ano eu vi até respeitáveis viúvas de militares da "Redentora" fazendo ardorosa campanha pelo Gabeira...enfim...o mundo muda mesmo muito depressa! Mas, continuemos.

eu defendi o Gabeira diante de meus colegas "eleitores" da direita. e sabe como eles continuaram essa salutar discussão? Me batendo, um grupo assim de uns dez. è sério: a elite carioca de 4 anos de idade "juntou" em mim quando eu defendi o Gabeira. Pra vcs verem: eu já apanhava por questões políticas antes mesmo de aprender a ler. tsc, tsc.

Quando cheguei em casa, contei tudo á minha mãe. Aqueles que conheceram a grande Vera devem imaginar como ela reagiu!! só pra vcs terem uma idéia, nessa época ela me vestia com uma camiseta escrito "Minha mãe e do PT. E a sua?" e, sim, nessa época o PT e PV eram partidos de esquerda (os dois). Realmente, o mundo muda em 20 e poucos anos!!

pois bem, Vera arrepiou seus cabelos a la Farrah Fawcett com o pente-garfo, colocou um botton do PT na blusa vermelha, vestiu um jeans baggy e foi à Nossa Escolinha, indignadíssima, disposta a criar o maior rebu. a professora ouviu a história e teve a idéia de fazer uma eleição no pequeno universo da nossa sala de aula.

Hoje, estando do "outro lado", aplaudo a iniciativa dessa cara colega de magistério. com a "eleição", vimos que eu não era a única: havia outros pequenos cabos eleitorais de Gabeira na sala (voluntários como os dessa última campanha). O Moreira ganhou a eleição do Jardim II da Nossa Escolinha ( e também a eleição real), mas nós aprendemos lições fundamentais, já nessa tenra idade: como funciona uma eleição, sua relevancia para a democracia e principalmente, a
importancia de se refletir sobre suas escolhas- e respeitar as escolhas dos outros.

pensei em tudo isso antes de votar. e agora que já sei que o Gabeira perdeu, não sei se estou triste por isso ou por ter a leve impressão de que apanhei á toa naquele dia distante, em 1984...

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