terça-feira, 4 de novembro de 2008

essa juventude de hoje...

Eu sei que o assunto é gasto: esse papo de "as crianças de hoje são terríveis" existe desde a Grécia Antiga. è possível encontrar textos de Aristóteles se queixando da indisciplina e desinteresse de seus discípulos. Os professores e pais sempre acharam que a juventude era "difícil". e os alunos sempre nos consideraram uns chatos. até aí, morreu o Neves.

mas não foi isso o que me intrigou no (excelente) documentário "Pro dia nascer feliz" , que assisti recentemente. O documentário mostra a realidade de várias escolas, públicas e particulares, em várias cidades de todo o Brasil. Tem coisas interessantíssimas, e outras que já são velhas conhecidas dos professores. mas o que mais me chamou a atençao foi uma outra coisa que já vinha me colocando pulgas atrás da orelha: porque as crianças do Rio de Janeiro simplesmente não conseguem controlar seus próprios corpos e sua propria voz?

eu explico. já tinha notado, nos meus alunos e nas outras crianças da escola onde trabalho, que raras são as que possuem um centro, fisicamante falando. a maioria simplesmente não consegue executar funções simples como andar, pegar objetos, guardar materiais sem chutar, bater e esbarrar em tudo, fazer um estardalhaço sem tamanho.

da mesma forma, não conseguem conversar em tom de voz normal. isso é facilmente observado em portas de escolas: as crianças e principalmente os adolescentes, frequentemente estão só conversando, mas quando vc passa perto, tem a impressão de que estão brigando por suas vidas.
falam e riem aos berros o tempo todo.

eu achava que era uma caracteristica dessa geração, criada à base de TV e Counter Strike. mas vendo o filme, fiquei surpresa com o controle motor e o tom de voz dos alunos de cidades de Pernambuco e dos estados do Sul. E antes que me digam que essas cidades são menores e portanto, mais calmas, eu respondo: os alunos de São Paulo também tinham mais autodomínio!

Já tinha observado isso nos meus alunos de apenas 5 anos: eram completamente incapazes de controlar seus corpos, e nenhum deles tinha qualquer tipo de problema motor (é só ver como conseguem reproduzir as complicadíssimas coreografias de funk). comecei a desenvolver um trabalho com eles nesse sentido: fizemos alongamentos, relaxamento, exercícios de respiração e consciencia corporal, exercitamos o contato com o outro e com o espaço, utilizando pra isso muitos exercícios que aprendi na faculdade de Artes Cênicas. Também fazia, duas vezes por semana um exercício montessoriano chamado Linha, que objetiva dar aos alunos exatamente esse equilíbrio, esse "centro", do qual eles pareciam precisar tanto.

Tive que enfrentar inúmeras repreensões da direção da escola, defendendo o meu trabalho com embasamento teórico. Por fim, me proibiram terminantemente de fazer os relaxamentos com a luz apagada. tive também que ignorar a ironia de colegas.

mas pude ver algum resultado. tenho a impressão de que agora, meus alunos se movimentam com um pouco mais de delicadeza. também passaram a conversar sem berrar, embora ainda falem muito alto.

mas a coisa continua me intrigando. o que há com as crianças do nosso estado? será o vento do oceano atlântico que deixa todos assim?pensando nisso, eu até reconsidero a minha má vontade com o mestrado e pesquisas de um modo geral...acho que gostaria de responder a essa pergunta.

enfim, se alguém tiver alguma resposta, tese ou palpite, me diga. cartas para a redação...

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