terça-feira, 23 de setembro de 2014

Dois meses depois

Faz dois meses que Arthur Felipe deixou de ser apenas um nome  e um projeto e se tornou uma realidade de quase 7kg no meu colo. entao acho que ja posso tecer comentarios sobre como me sinto. :)

o texto a seguir foi um comentario sobre um blog onde mulheres que se decepcionaram com a maternidade trocam experiencias. sera tb o primeiro post sobre como tem sido a minha vivencia....ainda to reunindo coragem pra escrever sobre o parto, rsrs. 

antes de mais nada digo que o que vou escrever aqui e so a minha opiniao, nao pretendo julgar nem "cagar regra" na maternagem de ninguem. so vou falar como funciona pra mim...



eu conheço o blog da J. acho interessante o que ela escreve e acho corajosa a atitude de assumir a decepçao com a maternidade, pq isso e um tabu. mas acho que tem mais caroço nesse angu...

hm, claro que a depressão pos parto teve influencia no inicio. mas me parece (minha opiniao, sem julgamentos) que uma certa idealizaçao da maternidade tb fez parte dessa decepção. quando vc imagina que uma situação vai ser maravilhosa, acaba se decepcionando qd ela mostra suas dificuldades. e o caso de muitas maes "arrependidas".

e nessa coisa de idealizar entra tb a ilusao de que a maternidade sera boa o tempo todo. nao e, nada e! a minha mae me amava muito, mas ela sempre brincava dizendo que "filho tinha que ter botao de off". hj penso a mesma coisa, rs. amo muito meu bebe, mas seria otimo "desliga-lo" as vezes, hehehe. isso e humano e normal. td mundo as vezes se cansa do proprio trabalho, do marido, e normal cansar dos filhos as vezes. mas a sociedade nao permite que mae se sinta assim...abrir mao da propria carreira e pessimo tb, claro. eu jamais faria isso, e por isso tive que me organizar de forma a conciliar a maternidade e o trabalho. 

outra coisa: faltam, muitas vezes, informaçao e orientaçao corretas. por exemplo, ela menciona que nao conseguia fazer nada em casa sem o filho chorar. meu bebe de dois meses e EXATAMENTE assim: reclama se eu fico longe. mas ai e que ta a importancia da orientaçao: minha doula me orientou a usar o sling. assim, eu ando pela casa e faço de tudo, com ele amarradinho a mim. e toda vez que eu ouço uma mae que amamenta dizer que ta sem dormir e exausta, eu me pergunto por que nao faz cama compartilhada. qualquer pessoa vai ficar exausta e deprimida se tiver que sair da cama e ir amamentar em outro quarto 4, 5 vezes por noite (frequencia com que um bebe pequeno mama). se o bebe estiver na mesma cama que vc, ou em um bercinho acoplado, faz TODA  a diferença! e não, nao e perigoso pra criança compartilhar a cama e nem mamar deitada, isso sao mitos. tb nao fica "mal acostumado". as indias carregam seus bebes amarrados ao corpo, amamentam em livre demanda, dormem com eles na mesma rede e nao se ouve falar em curumins mimados. 

outra coisa que noto no relato dela e de outras maes no mesmo blog: elas ficam sozinhas o dia todo com o bebe. isso e um fenomeno da nossa sociedade atual: a mulher de classe media sempre fica sozinha com seu recem nascido, o que é um absurdo. quando nasce um bebe numa tribo, a mulher esta cercada de cuidados; no interior e na favela, as vizinhas, amigas e parentes se mobilizam; ja a mulher ocidental de classe media urbana esta sozinha! isso e pessimo para a mae e para o bebe. mulher puerpera precisa de apoio. eu topei abrir mao do meu espaço e me mudei pra casa da minha sogra nesse primeiros meses do meu bebe exatamente pra ter esse apoio. 

e por ultimo, as vezes eu acho que falta uma dose de bom humor a maes e pais. quando eu estava tentando engravidar, muita gente me desencorajava dizendo "e terrivel, sua vida vai acabar, vc que gosta de trabalhar e ter liberdade nao vai aguentar, vc vai ter depressao, nao faça isso, vc tera que limpar coco, e nao vai conseguir comer nem tomar banho etc etc etc". olha, sobre isso, tem dias sim que meu filhote me obriga a comer com uma mao so, dias em que ele suja varias roupas... e eu procuro rir disso! tem um lado comico, ne. e se a gente nao ri dessas pequenas adversidades, a vida fica muito pesada. 

e, finalizando, sim, esses mitos machistas de que "mae e sagrada e infalivel" e tb o "toda mulher precisa ser mae" devem ser desconstruidos, pra ontem. ser mae e escolha.
outra coisa que nao ajuda e a mae ser sempre mais cobrada que o pai. isso so sobrecarrega as mulheres. 
e nao, o amor nao e instataneo e incondicional, ele e sim cosntruido, desde a gravidez; vc e seu bebe vao se conhecendo aos poucos e se envolvendo...e um processo. e pode sim ser muito bom, apesar dos percalços. :)